Prestar atenção em nós mesmos pode ser uma tarefa mais difícil do que se imagina. Para isso acontecer precisamos mudar alguns hábitos comuns na vida que costumamos levar. O nosso relacionamento com os dispositivos eletrônicos, por exemplo, é um dos principais causadores de um fenômeno que a Neurociência batizou de “atenção parcial contínua”. Ou seja, a atenção que salta de uma coisa para outra em curtos intervalos de tempo, como uma bolinha de pingue-pongue.
Em geral as pessoas reconhecem que ficar conectado o tempo todo interrompe o raciocínio ou distrai de uma tarefa importante. Muitas acham que lidam muito bem com isso, a vida hoje é assim mesmo, tudo bem olhar o celular rapidinho e voltar ao que se estava fazendo, não dá nada. Só que não é bem assim. Isso tem consequências e nós vamos falar delas aqui.
Imagine que você está analisando um documento. A análise é uma função do córtex pré-frontal, estrutura do cérebro que fica na região da testa. Os neurocientistas chamam o córtex pré-frontal de centro executivo do cérebro. Ele está ligado à nossa capacidade de raciocínio, aprendizado, memorização, tomada de decisão e autorregulação emocional. O funcionamento dele é o que mais consome energia no cérebro porque ele aciona intensamente conexões neuronais que, por sua vez, são fenômenos elétricos e químicos. É por isso que pensar cansa!
Aí você está analisando esse documento e, de repente, escuta uma notificação pelo celular. Difícil segurar a curiosidade, não é? Você desvia o seu foco de atenção, que estava no documento, para ler a notificação do celular. E aí, o que acontece com aquelas conexões neuronais da sua análise? Se desfazem. Cai tudo, porque cérebro não tem no-break. Seu pré-frontal agora cria conexões para entender a notificação do celular. Aí você volta para o documento e dá aquele branco rápido: “onde é que eu estava mesmo?”. Fora as interrupções naturais, pessoas que vêm falar com a gente. Não é à toa que chegamos ao fim do dia mentalmente esgotados.
Agora, vamos combinar: faz todo sentido desativar as notificações das redes sociais, por exemplo. Só que a gente não consegue ficar sem olhar uma telinha por meia hora. Ou menos que isso. Cinco minutos. E por que isso acontece? Primeiro, o cérebro é naturalmente receptivo a novidades. Nossa atenção é capturada por estímulos no ambiente e quando dirigimos nossa atenção para eles, somos recompensados com uma sensação de bem-estar que a química cerebral produz. Quanto mais somos neurologicamente recompensados, mais buscamos repetir a mesma experiência. É como comer chocolate. Tá aí porque é tão difícil resistir às tentações do mundo digital.
Se você já se convenceu de que precisa olhar mais pra dentro de si, estar mais presente e focado no agora, eu tenho algumas sugestões: 1) Silencie ou até mesmo remova as notificações das redes sociais. Separe alguns momentos do dia para ver todas as novidades de uma vez. Você vai perceber que o mundo não acaba. 2) Quando precisar se concentrar, trabalhe com o computador offline. Esses são só os primeiros passos – e talvez os mais importantes, para ampliar a concentração. Não é fácil, mas dá pra tentar.
Este conteúdo foi extraído do episódio 1 – “O viciante pingue-pongue da atenção” do Autoconsciente Podcast.