Mindfulness e a estabilidade no meio do furacão

Se a vida hoje é um turbilhão, a grande questão é: como fazemos para encontrar a lucidez e lidar com os desafios da nossa existência, com os problemas que sempre parecem maiores do que realmente são? Você já deve ter ouvido dizer que o centro do furacão é um lugar de estabilidade e paz, não é? Pois bem, se a vida é mesmo esse turbilhão, para estarmos mais presentes com os momentos simples e preciosos da vida, com autoconsciência, precisamos encontrar um “lugar” em nós mesmos onde a agitação da mente se acalma e a gente consegue lidar com tudo que está acontecendo. Precisamos encontrar o nosso centro.  

A palavra mindfulness veio do inglês e pode ser traduzida como “plena consciência”, um estado de consciência que surge quando focalizamos a atenção no que estamos vivenciando aqui, agora, sem julgamento. Quando experimentamos a prática do mindfulness, ativamos um circuito que a neurociência chama de “circuito da experiência direta”. Ele nos permite perceber o que está acontecendo conosco no aqui-agora e deixar a mente em silêncio. Quando a mente vira a chave para as divagações, outro circuito cerebral entra em ação, que a neurociência chamou de “circuito do modo narrativo”. É nesse modo narrativo e divagatório que o nosso cérebro funciona na maior parte do tempo. Quando um circuito está ativo, o outro está inativo. Um suprime o outro. 

Pensa comigo: se quisermos segurar as divagações que nos colocam no mundo da lua, desfocam, nos fazem agir no piloto automático, é muito simples. Basta trazer a atenção para o presente, para as sensações no nosso corpo, esteja ele parado ou em movimento. Os efeitos neurológicos e psicológicos são muito positivos e já foram comprovados pela ciência. Separei três: 

Fortalecimento da atenção. De forma muito simples, nosso cérebro é como se fosse um músculo. Quanto mais você usa, mais forte ele fica. O mindfulness é o treino de musculação, um exercício de focalização da atenção. A gente passa a ter mais facilidade para se concentrar e dizer “não” para as distrações.

Fortalecimento da autoconsciência. Os exercícios de mindfulness normalmente envolvem o foco em sensações físicas, e isso estimula uma estrutura do cérebro chamada ínsula. A ínsula, entre outras funções, gerencia as informações sensoriais do corpo e dos órgãos. Isso fortalece não só a consciência corporal, mas também emocional. 

Redução do stress. Os exercícios provocam a liberação de hormônios de bem-estar, que neutralizam os efeitos do stress. Quem pratica mindfulness se estressa menos porque muda a forma de se relacionar com as situações estressantes. 

O mindfulness ensina a reconhecer a situação incômoda em lugar de negá-la, e olhar para ela sem julgamento. Retirando o peso do julgamento, de repente o incômodo desaparece e a situação deixa de ter poder sobre nós. Numa perspectiva existencial, a prática do mindfulness traz mudanças maravilhosas no relacionamento com a gente mesma. Claro que a vida tem muitas questões para serem resolvidas e elas não vão desaparecer. Mas com o mindfulness percebemos que os problemas normalmente são bem mais simples do que a mente acredita que são. 

O mundo nos desafia todo dia com seu ritmo acelerado, demandas, mudanças, incertezas, adversidades. Se a gente depender que este mundo mude para a gente viver em paz, vai ser difícil viver em paz. Mas temos uma opção: transformar nossa maneira de lidar com as coisas deste mundo, e aí encontrar a nossa paz, o nosso centro. Disso se trata mindfulness. 

Este conteúdo foi extraído do episódio 5 –“Mindfulness é estar no seu centro” do Autoconsciente Podcast.